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sexta-feira, 20 de março de 2009

Gran Torino








Do UOL Cinema

Com uma energia invejável para os seus quase 79 anos, que completa no próximo dia 31 de maio, o diretor Clint Eastwood tem se mostrado capaz de lançar dois filmes por ano.

Foi assim em 2007, quando levou às telas a dupla de filmes abordando a campanha militar dos EUA no Japão na 2a Guerra, "A Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima". E também em 2008, quando realizou os dramas "A Troca", indicado para três Oscar, e "Gran Torino", que estreia nesta sexta*.

Passando batido praticamente de todas as premiações nos EUA, sem nenhuma indicação ao Oscar, "Gran Torino" só foi lembrado pelo National Board of Review, entidade que reúne diversos estudiosos e críticos norte-americanos e que entregou a Clint Eastwood seu troféu de melhor ator e ao novato Nick Schenk, o de melhor roteiro original no ano passado.

Esta ausência de premiações não significa falta de qualidades do filme, que é um dos mais sólidos trabalhos do ator e diretor. Seu personagem aqui, Walt Kowalski, é a própria encarnação da velha América, nostálgica de seu papel de heroína do mundo, que teve seu auge na 2a Guerra Mundial e começou a decair pouco depois, na Guerra da Coreia. Uma guerra que tem, aliás, tudo a ver com a amargura deste personagem.

Os pesadelos de Walt são povoados pelos rostos dos soldados coreanos que matou naquela guerra. Aposentado, viúvo e irascível, ele vê sua vizinhança em Detroit ser ocupada, paulatinamente, por outros rostos orientais, como os dos hmongs.

Povo espalhado entre China, Tailândia e Laos, os hmongs apoiaram os norte-americanos em outra guerra, a do Vietnã. Pagaram caro por isso. Com a vitória dos vietcongs comunistas, nos anos 1970, os sobreviventes tiveram de refugiar-se nos EUA.

A densa história de "Gran Torino" registra também um comentário econômico. Walt sente falta de um tempo em que a América era a economia mais dinâmica do mundo e Detroit, sede da indústria automobilística, uma de suas principais bases.

Ele mesmo foi funcionário da Ford e guarda na garagem uma pérola daqueles dias - um Gran Torino 1972 impecável, cuja pintura ele lustra cuidadosamente todos os dias. Ao lado da cachorra Daisy, o carro é seu mais sólido afeto, já que com os filhos e netos ele não consegue encontrar qualquer denominador comum. E vice-versa.

Este ferrenho conservador contém um pouco de cada um daqueles personagens a que Eastwood, em sua longa carreira, soube dar personalidade única. Walt Kowalski é uma espécie de síntese e também de atualização do implacável detetive Dirty Harry, do treinador Frankie Dunn de "Menina de Ouro" (2005), do Bill Munny de "Os Imperdoáveis" (1992) e de tantos outros homens sem nome de seus inúmeros faroestes, capazes de abrir mão das boas maneiras e até da higiene, da ética, nunca.

O relacionamento entre eles começa errado, quando Thao, pressionado por um primo gângster, tenta roubar o Gran Torino da garagem. Como punição, sua mãe e avó, seguindo os preceitos de sua cultura, obrigam-no a prestar serviços para Walt - que a princípio rejeita, mas não consegue recusar.

O filme progride na direção de um confronto urbano bem violento e realista, em que pessoas de bem são cercadas pelo crime organizado. Se a ética é o último reduto dos fortes, Clint Eastwood mostra-se ainda capaz de representar o heroi para todas as épocas e todas as situações.

*Nota do RA: A estréia de "Gran Torino", infelizmente, não acontecerá em Resende. Só nos resta esperar que, a partir do próximo fim de semana, o filme ocupe um horário alternativo em alguma das salas do Cine Show.

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