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sábado, 26 de abril de 2008

O ano em que a bossa acabou

Crônica de Nelson Motta, via e-mail

Há 50 anos, um cantor, uma canção e um disco mudavam a história da música brasileira: com a revolucionária gravação de "Chega de saudade", João Gilberto dava forma e conteúdo à bossa nova, inventando um novo ritmo e uma nova forma de cantar e tocar violão. O resto é história, que, como um rio de muitos afluentes, deságua no mar de nossa memória pessoal e coletiva.

Com o sucesso de João, se revelavam a maestria de Antonio Carlos Jobim e o talento dos jovens compositores que criavam a nova música. De 1959 a 1962, João Gilberto lançou três LPs históricos e a bossa nova virou moda. Os jovens enchiam as academias de violão para aprender a nova batida e as músicas que seriam a trilha sonora dos Anos JK.

Todos queriam embarcar no bonde do sucesso. A publicidade e a imprensa adoraram o rótulo. JK foi chamado, com justiça, de presidente bossa nova. Surgiram o carro bossa nova, o apartamento bossa nova, o terno bossa nova, com um paletó e duas calças.

Tudo virou bossa nova no Brasil provinciano. Velhos cantores da Rádio Nacional gravavam bossa nova para tentar surfar na onda do sucesso. Até Vicente Celestino lançou sua versão, operística e bombástica, da prosaica "O pato", que o minimalismo de João Gilberto havia transformado em clássico.

Em busca da reciclagem redentora, tudo que havia de mais velho se dizia bossa nova. Quando até a antiga UDN, denuncista e golpista, tinha a sua "bancada bossa nova" na Câmara, era o sinal final de que a bossa nova tinha acabado no Brasil.

Em 1962, ninguém queria mais saber dela por aqui, a nova geração engendrava a futura MPB, o país fervia com Jango e Brizola. Mas, felizmente, os grandes músicos do jazz americano a descobririam e levariam para o mundo e para a glória.

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