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sábado, 9 de junho de 2007

Polaróides históricas

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Com todo respeito e gratidão por alguns colegas que nos informam e divertem com suas crônicas, sinto muito, sentimos todos, a falta de mestres do cotidiano como Rubem Braga, Fernando Sabino, Antonio Maria, José Carlos Oliveira, Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, que, com humor e ironia, registraram os personagens, dramas e comédias do Brasil de seu tempo e deram grandeza e leveza à crônica como gênero literário.

O grande diferencial deles, além da qualidade do texto, é que abordavam os mais variados temas, pessoas e situações. Mas, se escrevessem hoje, coitados, como todos nós, os melhores e os piores, não escapariam da vala comum dos escândalos e da política, de roubos e falcatruas, de mentiras e sem-vergonhices de parlamentares, funcionários, policiais e juizes corruptos e de bandidos em geral.

O drama da crônica, para eles, era a falta de assunto. Hoje eles abundam, mas são os mesmos para todos, quase obrigatórios. Se vivessem hoje, os mestres teriam que rebolar para encontrar um ponto de vista diferente, porque não poderiam ignorar o cardápio de acontecimentos e nem engoliriam calados o prato feito do noticiário.

Que falta faz o que Nelson Rodrigues escreveria sobre sem-terras, feministas e ambientalistas, sobre Lula, Delúbio e Zé Dirceu, mas principalmente sobre patéticos dramas político-passionais.

Hoje, os jornais, revistas e blogs estão cheios de cronistas, que tentam fazer sua parte, registrando o nosso turbulento cotidiano. Alguns são talentosos, escrevem muito bem e poderiam, como os velhos mestres, nos divertir e informar melhor sobre nosso tempo e lugar, sobre nós mesmos. Mas todos só escrevem variações sobre os escândalos políticos e policiais. Inclusive o signatário. Pobres leitores.

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