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domingo, 10 de junho de 2007

Mônica desmente Renan


Entrevista da jornalista Mônica Veloso a Policarpo Junior na VEJA deste fim de semana e reproduzida no Blog do Noblat:

A senhora recebia dinheiro das mãos do lobista Cláudio Gontijo?

Sim, recebi durante quase dois anos.

Quando foi a primeira vez?

Foi entre fevereiro e março de 2004.

Os pagamentos seguiram até quando?

Até novembro de 2005.

O dinheiro pertencia a quem?

Não sei. Renan está dizendo agora que o dinheiro era dele, mas ele nunca me disse isso antes.

A senhora perguntou?

Não, eu recebia uma pensão e não fazia sentido perguntar de onde vinha o dinheiro. Isso parece importante agora por causa desse turbilhão, mas para mim não era. Eu pegava o dinheiro com o Cláudio e ponto. Não ia ficar questionando.

A senhora falava de dinheiro com o senador?

Nunca falávamos de dinheiro. Assunto de dinheiro era sempre com o Cláudio.

Onde a senhora pegava o dinheiro?

Na maioria das vezes, era no escritório da Mendes Júnior. Mas houve várias formas. Nos últimos meses da gravidez (a criança nasceu em julho de 2004) e no período do resguardo, o Cláudio me entregava os envelopes com dinheiro na minha casa, na minha produtora... Mas, depois disso, eu ia buscar o dinheiro na Mendes Júnior e o depositava na minha conta. Não tenho o costume de guardar dinheiro debaixo do colchão.

A senhora pegava o dinheiro na portaria do edifício da Mendes Júnior ou entrava no escritório?

Eu chegava ao prédio e me identificava na portaria. Eles anotam nome, identidade, hora e a sala aonde você vai. Se eles guardaram esses registros, é só conferir que minhas entradas estarão todas lá. Eu pegava o elevador até o 11º andar. Lá, me anunciava no interfone e a secretária abria a porta do escritório.

Como era repassado o dinheiro?

Cláudio me recebia na sala dele e me entregava o envelope. Alguns envelopes tinham o logotipo da Mendes Júnior.

Havia dia certo para pegar o dinheiro?

Era sempre no início do mês, mas não tinha dia certo. Às vezes era no dia 4, no dia 5, no dia 8. Eu ligava para o Cláudio e perguntava se podia passar lá.

O dinheiro não era depositado na sua conta?

Não, eu sempre pegava um envelope com dinheiro vivo.

A senhora disse que começou a receber dinheiro das mãos de Cláudio Gontijo entre fevereiro e março de 2004. Qual foi esse primeiro pagamento?

Eu estava deixando o apartamento onde morava e alugando uma casa no Lago Norte. Ficou combinado que o aluguel de um ano seria pago adiantado. O Cláudio foi ao edifício onde eu ainda morava e me deu um envelope com o dinheiro.

Quanto?

Salvo engano, 40.000 reais. Fui à imobiliária e paguei o ano inteiro do aluguel.

Que outros valores o lobista lhe repassava?

Na mesma data em que me mudei para a casa do Lago Norte, acertamos que as despesas decorrentes da mudança seriam de 8.000 reais por mês.

Com quem a senhora fez esse acerto?

Com o Cláudio e o Renan. Depois disso, o Renan nunca mais tocou em assunto de dinheiro. Quero deixar claro que a pensão não foi estabelecida para me sustentar. Sempre tive uma boa condição financeira. Tenho minha empresa de comunicação, tinha contrato com órgãos importantes do governo. Os 8.000 reais foram acertados para me adaptar às novas circunstâncias de uma gravidez que devia ser mantida com discrição. Eu morava num apartamento que me pertence até hoje e fui morar numa casa alugada para fazer essa adaptação.

A senhora sempre recebeu 8.000 reais?

Nem sempre. Houve um período em que o Cláudio pagou 2.800 reais de despesas com uma empresa de segurança. Essa despesa apareceu logo depois do parto da minha filha. Eu estava recebendo telefonemas com ameaças anônimas. Fiquei com medo, procurei o Renan e ele me orientou a tratar com o Cláudio. Eu fiz um levantamento das empresas e o Cláudio ficou com a parte financeira.

O contrato da casa no Lago Norte era por três anos. Por que a senhora saiu depois de um ano?

Porque as ameaças não pararam. Em março de 2005, resolvi alugar um apartamento, onde sentisse mais segurança.

Gontijo pagava esse aluguel?

Sim, era de 4.000 reais. De março de 2005 em diante, ele me entregou a pensão e o aluguel. Os envelopes passaram a ter 12.000 reais. Isso durou até novembro de 2005.

Em dezembro de 2005, o senador reconheceu a paternidade de sua filha e passou a pagar pensão de 3.000 reais. Por que o valor caiu de 8.000 para 3.000?

Porque o salário do Renan no Senado era de 12.000. Ele não podia pagar 8.000 de pensão e 4.000 de aluguel.

Mas o senador tem rendimentos agropecuários.

Não posso revelar mais detalhes sobre isso porque o processo judicial é sigiloso. Posso dizer que ele pagou 3.000 reais, descontados na folha salarial, até maio de 2006, quando fizemos um acordo. Como antes eu recebia 12.000 e passei a receber só 3.000, tinha uma diferença. Renan concordou em pagar 100.000 reais.

Os 100.000 reais não eram um fundo de educação para a filha de vocês?

Nunca houve esse fundo. Os nossos advogados chegaram a um acordo para compensar a diferença. Os advogados de Renan pediram que no recibo saísse que era um fundo. Na verdade, nunca foi isso. Eu não tinha outra opção. Ou aceitava isso ou não recebia nada. Não havia razões para rejeitar. O pagamento foi feito em duas parcelas de 50.000 reais, em dinheiro vivo.

Por que dinheiro vivo?

Os advogados dele (refere-se ao senador) é que apareceram com duas sacolas de dinheiro...

A senhora encontrou o senador num flat de Gontijo no hotel Blue Tree?

Sim, várias vezes.

O senador tinha um flat no mesmo hotel. Por que vocês usavam o do lobista?

Pergunte para o Renan.

Até quando a senhora se encontrou com o senador?

Nossa relação durou até dezembro de 2005.

Então, se o senador quisesse, até dezembro de 2005, ele mesmo poderia lhe entregar o dinheiro?

Nós nos encontramos até dezembro de 2005. Foram três anos de uma relação intensa, que começou quando ele ainda era líder do PMDB (o senador foi líder do partido de fevereiro de 2001 a fevereiro de 2005) e continuou depois que foi eleito presidente do Senado. Até dezembro de 2005, quando houve o reconhecimento da paternidade, foi uma relação tranqüila e, ao contrário do que disseram, não era eventual.

Mas então o senador poderia lhe repassar dinheiro sem recorrer ao lobista?

Ficávamos a sós, se é isso que você quer saber.

Qual é a sua relação com Gontijo?

Nenhuma. Não somos amigos. Conheci o Cláudio por meio do Renan em meados de 2003. Nunca o tinha visto antes. Ele não é da minha área, que é comunicação, publicidade. Depois de novembro de 2005, quando a pensão passou a ser paga com desconto no salário do Renan, o Cláudio sumiu. Nunca mais trocamos nem um telefonema.

Conclusão da VEJA: A alegação do senador Calheiros para ter recorrido ao lobista da Mendes Júnior é que, tendo um caso extraconjugal, precisava fazer os pagamentos de modo discreto. Recorreu ao lobista porque ele era amigo das duas partes. Mônica diz que não era amiga do lobista, e, se fala a verdade quando informa que seus encontros com o senador duraram até o fim de 2005, cai outra alegação. Se houve encontros até 2005, o senador poderia ter levado, ele mesmo, o dinheiro a ela. Tudo indica que, em sua solene defesa no Senado, Renan Calheiros mentiu para seus pares.

Pitaco do RA: Além das conclusões acima, VEJA também apurou - conferindo os extratos bancários que Renan apresentou em sua defesa - que, mesmo havendo recursos suficientes na conta bancária para bancar gastos (e que gastos!) com amantes e congêneres, não há nenhuma coincidência entre os saques do Presidente do Senado e os pagamentos efetuados a Mônica. Principalmente em relação aos 100.000 reais que, segundo a jornalista, foram pagos em dinheiro vivo (duas sacolas contendo, cada uma, 50.000). Portanto, a sua defesa no Senado - transmitida ao vivo para todo o país e assistida no plenário pela mulher (a oficial) e filhos - foi baseada inteiramente em MENTIRAS, ou seja, o tradicional método engana-trouxas (nós, o povo brasileiro) utilizado por políticos de todos os naipes e patentes ao longo de nossa vergonhosa história republicana.

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1 Comments:

At 10/6/07 11:40, Anonymous Anônimo said...

Olá, Otacílio.
O brasileiro tem uma fertilidade de imaginação que supera tudo na criação de enredos policiais para filmes de "suspense".
Somos craques, mesmo.
Abração.

 

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