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sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Preferência nacional

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

"É mentira!", bradou Severino Cavalcanti de dedo em riste, em rede nacional, para os que o acusavam de embolsar um mensalinho. O resto é história, mais resto do que história.

"Mentiras sinceras me interessam", Cazuza cantava com lirismo uma carência desesperada. Mas ele não era polícia e nem ladrão. E nem presidente da República.

"Mentir é um direito do acusado", proclamou o novo governador da Bahia, Jacques Wagner, certamente pensando mais nos companheiros em apuros do que no estado de direito democrático. O direito do réu é não se incriminar, perjúrio ainda é crime no Brasil, apesar de toda a impunidade.

Em países civilizados, pode até derrubar governos. Bill Clinton, mesmo vitorioso e popularíssimo, sofreu um processo de impeachment, não porque teve um caso com uma estagiária gorducha, mas porque mentiu. Entre nós, a mentira é não só tolerada como recompensada. A atual verdade brasileira é: minto, logo, existo.

Treinados para resistir a pressões e torturas, para não entregar companheiros, planos e organizações, alguns heróicos combatentes da luta armada morreram sem falar, outros foram humanos e não resistiram, mas isso tudo é passado.

Muitos que hoje estão no poder foram adestrados nessa dura escola da "mentira nobre" e continuam mestres na especialidade. Afinal, para quem se preparou para enfrentar os interrogatórios nos porões da ditadura, mentir cínica e deslavadamente numa CPI, na Polícia Federal ou na imprensa é um deleite.

Parafraseando o imortal Tim Maia "não fumo, não bebo e não cheiro - mas às vezes minto um pouquinho" pode-se dizer que nunca na história deste país tantos mentiram tanto em tão pouco tempo. E nunca tantos acreditaram. Ou estou mentindo?

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