RA completa 13 anos no AR

sábado, 4 de novembro de 2006

Coisas impossíveis antes do café

Fernando Gabeira, na Folha Online

Tornei-me um grande "direitista" por defender a quebra do monopólio nas comunicações. Milhões de telefones foram vendidos. Entendi como um processo de redistribuição de renda. Antigamente, um prestador de serviço usava telefone de recado. Ainda bem que meus eleitores, diante do aparelho concreto, compreenderam bem os argumentos.

Outra crença interessante é a de que, com a ajuda do governo, vai florescer uma imprensa alternativa. Essa premissa já a faz nascer com um pecado mortal. Será que não se percebeu ainda que essa revolução já aconteceu e que não depende dos trocadinhos do governo? A internet está aí possibilitando o blog próprio, tevê e rádio próprias.

O próprio PT, através de seus simpatizantes, fez um uso maciço e um pouco atemorizante da rede. Eu mesmo recebi mensagens dizendo que era um traidor do povo brasileiro e que, junto com Caetano Veloso, iria para a lata de lixo da história. Desconheço o abrigo atual de Caetano. No meu caso, já fui condenado, há anos, à lata de lixo da história. Que corrente política me tirou de lá? E agora, por que me condenam de novo?

Sinceramente, pensei que estavam alegres com a vitória eleitoral e que iam se dedicar aos projetos que possam realizar as expectativas da maioria que os consagrou. Em vez disso, resolvem ajustar suas contas com a imprensa. Aqui de Ipanema, a única mensagem das ruas, pelo menos da Vinicius de Moraes, é esta: é melhor ser alegre do que triste.

Em 2002, os vencedores sorriam para o amanhã. Hoje, parecem ressentidos e, para azar de todos, aterrissaram no maior apagão aéreo dos últimos anos. As diferenças esquerda-direita, dramatizadas na campanha, lembram-me um pouco daquele soldado japonês que passou anos ignorando que a guerra havia acabado.

Os dois pólos sobrevivem em toda parte. Mas se a esquerda chilena desembarcasse por aqui, ou mesmo a direita sueca, estariam arriscadas a sofrer críticas de seu próprio campo. Objetivamente, há um enorme espaço para se entender. Na cabeça, ainda estamos divididos, hostilizando-nos mutuamente. Talvez a saída seja mesmo a da Rainha Branca: fechar os olhos, respirar fundo e pensar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.

Para ler este texto na íntegra - e entender o porquê da frase final -, clique aqui.

Share

0 Comments:

Postar um comentário

<< Home