RA completa 13 anos no AR

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

"Sou escapista mesmo"

Entrevista com Peter Jackson, diretor de King Kong,
publicada na revista ÉPOCA

ÉPOCA - King Kong o fez decidir ser cineasta?

Peter Jackson - Sim. Estou realizando meu sonho de criança. Vi o filme de 1933 na TV, quando tinha 8 anos. Aquilo me impressionou. Mobilizei a família, ganhei uma câmera e tentei fazer minha primeira versão na garagem de casa. Desenhei em papelão o cenário de Nova York!

ÉPOCA - Você apresentou um projeto de remake aos estúdios da Universal?

Jackson - Sim, em 1996. Já estávamos produzindo O Senhor dos Anéis, e meu sonho continuava. Naquele tempo os executivos eram muito chatos, não queriam saber de King Kong. O diretor duplicou a metragem do filme. O novo King Kong tem 3 horas

ÉPOCA - Por que agora deu certo?

Jackson - Não vou mentir: só consegui fazer o filme por causa do sucesso de O Senhor dos Anéis. Agora posso fazer o que quiser.

ÉPOCA - Você optou pelo fantástico? Acha que seus filmes privilegiam a fantasia sobre o real?

Jackson - Espero que os espectadores deixem a descrença de lado e se entreguem à aventura. Como King Kong é um mito eterno, as platéias sempre se interessarão por ele.

ÉPOCA - Mas o filme tem uma mensagem ecológica, denuncia a destruição da natureza.

Jackson - Não foi proposital. O mundo atual é péssimo, com guerras injustas, e fico triste com a destruição da natureza. Mas isso passa longe de King Kong. Quero reviver a magia do original com os recursos técnicos atuais e fazer jus ao slogan para o filme de 1933, que repetimos: 'A oitava maravilha do mundo'.

ÉPOCA - Não teme ser acusado de escapista?

Jackson - Sou escapista mesmo, com orgulho. Temos compulsão de ver um filme divertido para esquecer as agruras do mundo. Antes as pessoas encontravam isso em Mozart e Beethoven, mas hoje a diversão é o cinema. Quem não quer esquecer deste mundo horroroso?

ÉPOCA - Você poderia analisar a evolução de sua carreira?

Jackson - Não acho que tenha evoluído como cineasta. Minhas obsessões são atemporais, e King Kong é um projeto de 35 anos. Filmo o que me apaixona. Foi assim com O Senhor dos Anéis. Sou um eterno menino sonhando em filmar.

ÉPOCA - O que acha da versão de 1976?

Jackson - Detesto. Quis evitar aquele clima erótico. Jessica Lange e o macaco se atraem sexualmente e há cenas de gosto duvidoso.

ÉPOCA - Qual é a contribuição de seu remake ao original de 1933?

Jackson - Busquei um relacionamento mais profundo. Não é um filme de amor, mas um filme sobre o amor. King Kong é perigoso. Mas, nesse clima de perigo, Ann termina por dominá-lo. A tragédia se dá quando Kong se apaixona pela mulher civilizada. É o começo de seu fim.

Share

0 Comments:

Postar um comentário

<< Home