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domingo, 27 de novembro de 2005

Altos lucros, golpe baixo

Crônica de Nelson Motta

Sempre que leio alguma coisa sobre esses empréstimos de R$ 500 com desconto em folha de pagamento sinto náuseas. E vergonha de viver em um país que permite, e até estimula, esse tipo torpe de exploração.

O Banco BMG – com uma mãozinha de Marcos Valério e Delúbio – foi o primeiro a sair na corrida pelo dinheirinho suado de quem mais precisa. Sem fazer nenhuma força, sem mover uma palha, a não ser cadastrar a manada, ia ter um lucro de R$ 500 milhões, mas preferiu vender a sua carteira de empréstimos à Caixa Econômica, um banco dito "social", por módicos R$ 209 milhões.

Esse lucro todo foi arrancado desses pobres coitados na forma de juros escorchantes. E absolutamente injustificáveis, já que o "custo de administração" é apenas transferir automaticamente da folha de pagamentos do cliente para a conta do banco que emprestou.

O risco também é zero – o desconto é em folha, não há garantia maior. Se o infeliz morrer, talvez de fome, a seguradora do próprio banco cobre. É um dos melhores – e um dos mais sórdidos – negócios do mundo.

Por que o vice José Alencar não grita contra esses juros imorais, que se alimentam justamente dos mais pobres e dos mais fracos – que sequer podem dar um trambique no banco, como o PT fez com os empréstimos de Marcos Valério?

Se só o BMG pilharia meio bilhão, imagine-se o que os outros bancos maiores estão ganhando à custa dos mais pobres. Imagine-se tudo que poderia ser feito com essa dinheirama em programas para idosos, deficientes, doentes e incapazes, que são a indefesa clientela dessa exploração oficial.

Ganham todos, sem fazer força: não só os bancos, mas o governo voraz de impostos, os sindicatos que intermediam, as agências que produzem campanhas milionárias em disputa do filé e os veículos que as exibem. A fonte pagadora é uma só.

Publicada no site Sintonia Fina (link nos Favoritos do RA).

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